01 abril 2007

O Forno a Lenha

O forno a lenha caipira, também conhecido como forno de pizza, merece um artigo completo de tão interessante e funcional, porém é tanta coisa que dá para relatar que o texto poderia ficar chato, ou muito extenso. Por isso, a quem interessar, mando as informações completas via telefone ou e-mail, ficando por aqui só breves pinceladas.
Uma de suas facetas que muito me agrada trata do resgate cultural. Tradição desenvolvida no campo, chegou até as casas das cidades antigas e há 40 anos vem sumindo, substituído pelo forno a gás. Por sumir o forno, sumiu junto o conhecimento de como o forno é construído e como ele funciona. Por sorte, não entrou em extinção, pois muitos ainda o conhecem e o utilizam. Gosto de fazer o forno e dissipar seu conhecimento pelo fato de ser um produto extremamente honesto, ou seja, é barato para ser construído, é durável e funciona bem demais.

Forninho do Toninho e da Rosa sendo construído...


Forno pronto e recebendo a primeira "queima"... O modelo da foto acima é o mais simples e barato, feito com base em madeira e de diâmetro externo = 1,10m. Base 1,20x1,20m.

Devemos saber é que não adianta querer melhorar o desempenho utilizando-se de tijolos refratários, para esse caso, eles são muito mais caros e piores para o funcionamento. O motivo é que por não absorverem o calor, a energia da lenha é dissipara pela chaminé, por isso o refratário é bom para a churrasqueira, pois manda o calor par fora.
Outro item importante a saber é que os fornos pré-moldados feitos em cimento são ainda piores pois esse material tanto ganha quanto perde mais rápido o calor, desse modo ficando quente rápido, porém perdendo energia assim como a lenha vai se apagando.
Assim vemos que a qualidade do tijolo de barro em absorver o calor lentamente faz com que ele tenha bastante potência de funcionamento após ter sido aquecido mesmo quando as chamas vão se apagando. Além disso, entram vários outros fatores sutis em jogo, como a química neutra do tijolo de barro, em relação aos produtos industrializados através de processos químicos como o cimento.

Esse aí é o meu... Na base em tijolos, com chaminé e pequena cobertura.
Quanto ao aspecto visual, o forno, na maioria das vezes tem a forma de meia esfera, ou iglu, inclusive com o acabamento de reboque em terra, por ser o tipo mais simples e que funciona bem. Porém, pode-se ajustar e/ou mudar a aparência do mesmo sem alterar suas qualidades. Por exemplo, podem ser construídas paredes nas laterais do forno, preenchido o espaço livre com areia grossa, cobrir com laje/tampa, e temos então um forno “quadrado” visto por fora, porém esférico por dentro. Essa parede externa pode ainda ganhar acabamento conforme desejado, mosaicos, pintura, pedras e outros.

Esse é o do João e da Le... Novinho, antes da primeira queima...

Por enquanto é isso. Abraços e boas fornadas...



2003 - O Projeto do Edifício Rímini


Em 2003 fui convidado para elaborar um projeto de arquitetura de uma edificação do tipo “prédinho”, em terreno 11x28m, no bairro Nova Aliança, na cidade de Ribeirão Preto – SP, onde moram meus pais, irmãos e alguns amigos.
Esse bairro possui muitos “prédinhos” de baixa qualidade, a começar pelo fato de que a grande maioria deles possui 12 unidades habitacionais (de 1 quarto cada, com garagem para 1 carro), em terrenos 11x28m. Super apertado, pequeno, pouca vaga na garagem e o que é pior de tudo, mal ventilados. Visitei vários deles com o cliente, que achava inicialmente que o melhor dos apartamentos que foi visitado seria um bom modelo para ser seguido. Sugeri ao cliente que deveríamos fazer algo diferente, adotando-se a hipótese de termos 6 unidades habitacionais apenas, porém diferenciadas em relação às outras. Teriam por exemplo ambientes maiores, ventilação cruzada, boa iluminação natural, acabamento médio/alto e duas garagens por apartamento. Sabia que dessa forma a obra teria custos e prazos que seriam garantidos com a verba inicialmente prevista e que posteriormente o investimento teria bom retorno.
Convidei os Arquitetos da “Teia – casa de criação” para participarem do processo e então Cláudio Pepino, Eduardo Araujo Silva e Daniel Marostegan e Carneiro participaram do processo de criar esse novo espaço. Juntos desenvolvemos os projetos de arquitetura básicos, maquetes e desenhos executivos de arquitetura e hidráulica. Em paralelo um profissional fez o projeto detalhado de elétrica. Fiz o cálculo estrutural. Ao cliente coube a contratação da mão de obra e administração da mesma.
A tipologia que foi criada ficou muito interessante. São 2 blocos distintos, sendo um deles o bloco dos apartamentos de 1 quarto (60m2) que possui uma edificação no térreo para atender idosos e/ou cadeirantes e o outro o bloco de apartamentos de 2 quartos (90m2) construídos sobre as garagens, ambos ligados ao centro pela caixa de escadas. Para a cobertura do bloco de 1 quarto foi utilizado laje impermeabilizada, o que permitiu ao último pavimento do bloco de 2 quartos possuir maior área (150m2) com uma enorme sala e varanda neste espaço, apelidado de “a cobertura do Marajá”.
O resultado final do trabalho desse time foi muito satisfatório. Os apartamentos, que seriam alugados, se esgotaram em 15 dias após construídos e até hoje fazem sucesso, estando sempre locados.
Ainda assim, em minha opinião, acho que deveria ser dado maior ênfase em questões de conforto térmico (as paredes da fachada oeste esquentam muito e fazem com que das 6 da tarde à meia noite seja muito quente dentro das edificações devido a fenômeno de radiação) e acústico (lajes permitem ouvir passos e outras atividades que são desenvolvidas nos vizinhos superiores e inferiores aos pavimentos). Melhorias nesses itens em muito aumentariam o custo da obra, mas acho que ainda assim seriam justificáveis, pois acho que haveria pessoas que optariam por pagar ainda mais por esses benefícios. Bom, quem sabe nas próximas oportunidades...


Vista da fachada do edifício Rímini.

Vista da elevação Norte e sua "movimentação" .






Detalhe da entrada para escadas e garagens.





Detalhe sistema estrutural, esgoto e gas de cozinha.





Detalhe escada, iluminação/ventilação natural e corrimão.



Detalhe da cozinha (ap 2 quartos) e acabamentos utilizados. Observação importante é que projeto de arquitetura comtemplou armários da cozinha e quartos.

2002 - A construção da Shanti

Em 2002 tive a oportunidade de participar da reforma e construção da Shanti – Espaço Integrado de Atividades. Esse local seria destinado à prática de atividades como Yoga e afins.
Dividi as responsabilidades da administração global dessa obra a convite do Arquiteto Eduardo Araujo Silva, da Teia – Casa de Criação, o qual foi o contratado responsável pelo desenvolvimento dos projetos arquitetônicos e administração.
Logo no início dessa obra tivemos a oportunidade de conhecer e contratar o Empreiteiro Valdinei Ostapechen, que foi de importância fundamental para o desenvolvimento da reforma e construção desse espaço que abrigaria três salas, galpão, cozinha, recepção, vestiários, estacionamento e jardim interno.

Detalhe da fachada com tijolos assentados em "duas linhas" pelo Valdinei, projeto que teve participação do Arquiteto Cláudio Pepino nessa idéia dos tijolos. O madeiramento das portas e janelas foram sobras da demolição de parte da edificação que virou o recuo aberto com estacionamento para carros.



Acima, teto em tijolos. A idéia e execução desse acabamento em tijolos que serviram de forma para a laje maciça foram do Empreiteiro Valdinei, que a esta altura já tinha pego o "espírito da coisa". Isso mostra o quão importante é a sinergia entre as pessoas envolvidas na obra.




Essa é a escada que dá acesso ao pavimento superior com sala de atividades e varanda sobre laje impermeabilizada. Fica abaixo do teto em tijolos, na entrada. O projeto é simples e funcional. A madeira foi comprada nova e foi escolhida a mais barata encontrada - eucalipto citriodora.

Durante o decorrer da obra tive participação em detalhar o projeto básico e construir uma parede em tijolos formando elementos vazados que faz com que o espaço interno esteja sempre sendo ventilado por ficar na divisa do interior da edificação com o jardim ao ar livre.
Em termos de projeto gosto do fato de que não há repetição das linhas ou colunas do desenho onde cada tijolo funciona como uma veneziana e cada qual tem seu espaçamento e angulo de rotação próprio.
A parede foi construída com massa sem a utilização de cal, para que não sujasse os tijolos garantindo o bom aspecto visual. Só foi utilizado na massa a areia grossa, no sentido de se obter maior resistência e menor retração da pouca massa utilizada. Cada tijolo de demolição foi lavado para limpeza da terra impregnada, e assentado úmido para aumentar o tempo de cura da massa, gerando maior resistência.



Parede divisória em tijolos de demolição assentados formando elementos vazados.



Detalhe das aletas que quanto mais fechadas, mais distantes no espaçamento.




Mais detalhes...



Parede vista a partir do jardim interno. A passagem leva as salas de atividades dos fundos, no galpão. O cadeirante não foi esquecido, passarelas e rampas com projeto dentro das normas, permitem a mobilização por todo o espaço no térreo - parabéns Shanti e Arquiteto Eduardo.

O jardim interno e jardim da fachada contaram com a presença de espécies trazidas pelos próprios clientes e proprietários da Shanti, Hevandro e Katrina, e seus familiares, com várias mudas de espécies trazidas de suas próprias casas.
A Shanti tem ainda outros detalhes como a laje impermeabilizada sobre os banheiros, que serve de varanda para a sala do piso superior. A iluminação e ventilação zenital dos banheiros. A iluminação zenital na linha sul da grande sala no galpão cuja entrada de luz direta nunca bate no chão devido ao estudo das posições do sol ao longo do ano, desse modo não atrapalhando as atividades calmas e introspectivas desenvolvidas no local. As mesas e prateleiras da cozinha feito com restos de madeira da demolição da área coberta que deu origem ao jardim interno.



Detalhe: Sistema para iluminação e ventilação dos banheiros. Trata-se de construção simples e funcional que além de tudo ainda serve de banquinho para os frequentadores da laje.





Detalhe: Sistema de iluminação da sala do galpão em telhas de vidros transparentes, dispostas na linha sul de modo que a luz não incida diretamente sobre o piso em E.V.A.

Vale a pena uma visita para conhecer melhor, tanto para quem quer saber mais sobre obras simples e bem feitas, com alta qualidade em projetos e mão-de-obra envolvida, quanto para os adeptos das atividades relacionadas ao Yoga e Terapia Ocupacional. Contato: Hevandro (Hólly) ou Katrina (16) 3371-1085.